Trajano
Jardim*
A luta que os trabalhadores na educação
do Brasil para serem valorizados e reconhecidos como necessidade social e de
relevância para a construção de uma nação diferente, justa e desenvolvida, tem
sido constante. Principalmente no ensino privado, onde não há nenhum
instrumento de regulamentação do setor, hoje dominado pelos Fundos de
Investimentos internacionais..
Todos os políticos, de todos os matizes,
se perguntados, respondem que a educação é prioridade nos seus programas eleitorais.
Mesmo para os que se opuseram ao mísero “piso salarial” e entraram com Ação de
Inconstitucionalidade (ADIN) no Supremo Tribunal Federal para não cumprir a
determinação legal. Determinação exigida apenas para o setor público.
De todas as profissões que exigem a
graduação superior, o professor recebe três a quatro vezes menos que o salário
inicial da maioria. Não estamos falando nem querendo comparar com o judiciário.
Isso já seria covardia. Não apenas em relação a salários, mas, também, pelas
benesses auferidas por essa privilegiada categoria.
E não se trata aqui de querer
menosprezar qualquer outra profissão, ou como diz o dito popular “puxar brasa
para a nossa sardinha”. Trata-se apenas de isonomia para o mesmo grau de
formação. Aos professores é exigida graduação, pós-graduação, doutorado,
pós-doutorado, formação continuada e o escambau para exercer suas atividades. A
um juiz, procurador, delegado ou outra função afim, é exigido somente a simples
graduação e o concurso.
Se mudarmos o foco da discussão para as
condições de trabalho, a comparação continuará no campo da disparidade. Basta
olharmos as condições das escolas públicas desse nosso brasilzão. A maioria sem
o mínimo de meios para que se possa realizar um ensino de qualidade e atrativo
para manter o aluno na escola. E no setor privado a situação é muito mais
grave. O professor é obrigado a enfrentar salas com excesso alunos, quase
sempre em condições precárias de trabalho e com salários inacreditáveis.
Na última edição do BBB vimos nas mídias
informativas, de todos os conteúdos, a discussão sobre um possível estupro em
rede nacional no programa dos “heróis” do Pedro Bial. (Quem diria. O que o
dinheiro não faz?). Incrível a repercussão que deram ao assunto. É a prova
cabal do baixo nível cultural de grande parcela da nossa população. Por isso, não causa espanto as manifestações
de rua, se atentarmos para as declarações dos entrevistados.
Dezenas de teses foram desenvolvidas
sobre o assunto. Desde teorias “sociológicas de gênero”, passando pela “teoria
do preconceito”, desembocando até em “análises psicanalíticas” pseudo
freudianas, que tentam explicar as relações de sexo explícito ao vivo em
horário nobre e em cores, no “Motel Globo/BBB”.
Estranhamente pessoas que se dizem
politizadas e intelectualizadas entraram nessa discussão pueril e sem qualquer
conteúdo. Além dos poderes públicos representados pelo Ministério Público e
pela Polícia Civil, todos contribuindo,
como diria o saudoso Stanislaw Ponte Preta,
com o “festival de besteira que assola o País”.
Se o Brasil fosse um país sério, que
quisesse ascender como potência mundial, já teria proibido a baixaria que tomou
conta da programação das emissoras de televisão e de outras mídias alhures.
Afinal o setor de comunicação, por determinação da CF do Brasil, é concessão do
governo. Isto é, bem público que deve ser gerido e fiscalizado pela sociedade.
Para isso, o governo deveria instituir o
Conselho de Comunicação Social, que as
grandes empresas monopolistas do setor teimam em chamar de tentativa de “limitar
a liberdade de expressão”. Como se liberdade de expressão fosse de caráter
absoluto, sem qualquer parâmetro ético, social ou moral.
Durante a 68ª Assembleia Geral da SIP (Sociedade Interamericana
de Imprensa), na apresentação dos relatórios por país, da Comissão de Liberdade
de Imprensa e Informação da organização, realizada em São Paulo no mês de agosto
de 2012, ficou explícito no
informe brasileiro apresentado pela superintendente da Folha da S.Paulo e
ex-presidente da Associação Nacional dos Jornais, Judith Brito, a posição dos
barões da mídia brasileiros, que se manifestaram contra qualquer tipo de
controle social para o setor.
Enquanto isso,
apesar do esforço da campanha "Quem financia a baixaria é contra a
cidadania", lançada pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados,
programas medíocres, que atentam contra o direito de expressão da sociedade e
que é ignorado pelos meios de comunicação, continuam sendo exibidos sem
problemas.
.
Já pensaram se no horário do BBB fosse
apresentado o “Telecurso”, que é levado ao ar de madrugada, quando o
trabalhador, que concentra a maior parcela que precisa estudar, está saindo de
casa para o batente? “Há! Impossível”! Diriam os magnatas da comunicação. “Não haveria patrocinadores. Não dá Ibope”.
Todavia, esses programas sobrevivem das
empresas públicas que patrocinam o setor.
Só a Petrobras, com a agência contratada ArtPlan, tem um orçamento de
mais de quinhentos milhões de reais para
gastar em publicidade.
No pensamento desse grupo, educar o povo
não interessa. Afinal é preferível deixa-lo no limbo do analfabetismo
funcional. As escolas podem ficar como estão. A educação de qualidade, com
professores bem formados e valorizados, é obrigação do Governo. Ele, governo,
que se vire. O que interessa é usar os recursos destinados à educação para
enriquecimento próprio. Para isso, “é preferível o BBB a um bom ensino”.
“Vida de gado. Povo marcado eh! Povo
feliz”.
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*Jornalista
– Professor Universitário – Pós-Graduado em Docência no Ensino Superior