terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Aos amigos, companheiros e Camaradas

            Amigos. Esperamos que 2016 seja um ano de mudanças expressivas no âmbito social e político do nosso País.

           Que os problemas sociais sejam resolvidos com o governo gravando as grandes fortunas para o Estado ter recursos para ser o indutor do investimento em educação, saúde, habitação,, transporte e demais benefícios para os que mais precisam.

          Para isto, precisamos organizar e mobilizar nossas forças  para os enfrentamentos que estão postos, de ataque à democracia e ao estado de direito.

                                                       Feliz Ano Novo!.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Paris e as lágrimas de crocodilo.

Paris e as lágrimas de crocodilo.

As vítimas da ignomínia terrorista devem ser igualmente pranteadas

Caça francês decola para novo ataque aéreo na Síria
Caça francês decola para novo ataque aéreo na Síria
Comecemos pelo incontroverso: o terrorismo não tem justificativa nem ética, nem moral, nem religiosa, nem política, nem tática, nem estratégica. É um ato de lesa-humanidade, primitivo e brutal que nega a civilização e a própria evolução humana. A medida de sua ignomínia independe de suas vítimas, se europeus ou norte-americanos ou judeus, se asiáticos ou árabes ou africanos ou persas ou turcos, ou palestinos, ou cristãos ou muçulmanos ou hindus. Se brasileiros. Onde quer que ocorra um só ato terrorista, a vítima é a humanidade como coletivo.
Por isso suas vítimas precisam ser igualmente pranteadas. Se o justo clamor provocado pela barbárie que se abateu sobre os parisienses – decretada uma vez mais pelo chamado Estado Islâmico –, se levantasse ante todos os atos de terrorismo, a começar pela violência inominável e covarde do terrorismo de Estado das grandes potências ocidentais, talvez o mundo conhecesse menos horror e nós hoje não nos sentíssemos tão desamparados.
A indignação mediática que nos querem impor, porém, é seletiva, e contra esse viés precisamos reagir, pois só assim emprestaremos força moral à nossa reação.
Querem justamente que choremos quando as explosões são em Paris (ou Nova Iorque, ou Madri) e atingem pessoas com as quais nos identificamos cultural e fisicamente, mas dessa mesma violência pouco nos falam quando explode em Cabul, ou quando suas vítimas são negros, ou árabes, ou asiáticos ou palestinos ou persas. Nesses casos a violência é banalizada porque não nos ameaça (ora, somos ocidentais e brancos!), assim como não nos atinge a violência urbana quando restrita às periferias de nossas metrópoles, fazendo vítimas predominante entre negros e pardos e pobres, sejam marginais, sejam civis indefesos, sejam policiais.
Na quinta-feira 12, na véspera dos atentados parisienses, cerca de 60 pessoas perderam a vida e os feridos contam-se em mais de duas centenas, vítimas de atentados levados a cabo pelos mesmos facínoras do EI. Mas desta feita a explosão do irracionalismo se deu no Líbano, e suas vítimas eram árabes, na maioria membros do Hezbollah, adversário de Israel, aliado xiita do Irã mas inimigo de morte do EI.
Na Turquia, dias antes, o EI matara 100 pessoas na Estação Central de Ancara.
Suas vítimas não contaram com o pranto mediático, muito menos sequer uma vela foi acesa com a morte dos mais de 200 passageiros do avião russo derrubado nos céus do Egito, pelo EI, sempre ele.
Já entrou para o esquecimento a sorte dos 700 mil palestinos, expulsos de suas terras e de suas casas pelos continuados assentamentos do Estado de Israel. Não nos choca mais saber que se contam em cerca de 100 os palestinos mortos pelas incursões do poderoso exército de Israel, só no ultimo mês.
Sequer nos perguntamos quantas vidas foram ceifadas na Guerra contra o Afeganistão, quantas foram ceifadas na invasão do Iraque, quantas presentemente estão sendo ceifadas na Líbia e na Síria onde EUA, França e Inglaterra, que pretendem a derrubada de Assad, exercitam sua guerrinha-fria contra a Rússia, que dá sustentação diplomática e política ao ditador.
Para nós, em nosso distanciamento, foi impossível conhecer a dramaticidade da ‘guerra’ do Iraque promovida pelos EUA. Pela televisão, ‘ao vivo a cores’, em cadeia mundial, sem a visibilidade de cadáveres, sem sangue, a invasão foi, emocionalmente, apresentada como um reality show ou um vídeo game futurista. Registramos apenas a estética dos mísseis com suas luzes iluminado a escuridão do céu numa noite sem lua.
Síria, Turquia, Líbia, Iraque, todos fronteiras artificiais impostas pela Inglaterra e pela França a parir do Acordo Sykes-Piot (1916) que – violentando culturas e histórias milenares – serviu tão-só para redesenhar o Oriente Médio, para assim melhor explorá-lo.
Como surgiu esse ódio sectário que corre do Oriente Médio, e que se estende pela Ásia e pela Europa e vem ensanguentar as cidades mais queridas do Ocidente?
Quem financia tanto terror?
Quem entrega armas e equipamentos de guerra nas mãos desses facínoras?
A resposta inescapável é única: são os que hoje derramam lágrimas de crocodilo.
O chamado Estado Islâmico, uma decorrência da Al Qaeda – por sua vez uma criação dos EUA – é financiado pelos petrodólares dos países do Golfo Pérsico, à frente de todos a Arábia Saudita, a maior potência do Oriente Médio, e principal aliada do Ocidente (seja lá o que isso hoje signifique).
São também esses dólares que financiam a indústria bélica do EUA, da Inglaterra e da França, os maiores fabricantes de armas e equipamentos de guerra do mundo, os maiores fornecedores e os maiores traficantes de armas. E, não obstante, ou por isso mesmo, são eles, os fornecedores de armas aos terroristas que nos ameaçam e matam seus povos, membros com assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Segurança?
Osama Bin Laden – é sabido – foi recrutado, treinado e financiado pelos EUA para dar combate às tropas soviéticas que defendiam o governo do Afeganistão. Em crise, a Al Qaeda (aquela do atentado contra as torres gêmeas) foi salva pela invasão do Iraque pelo segundo Bush. Dela surge o EI.
Assim e em nome de nada – ora em nome do combate a tropas soviéticas no Afeganistão, ora em nome de mentiras deslavadas (as ‘armas de destruição em massa’ de Sadam Hussein), ora sob o pretexto da defesa de minorias (Síria), ora sob pretexto nenhum (Líbia), os EUA – com a cooperação militar da França e da Inglaterra –, destruíram as estruturas sociais-religiosas do Iraque e dos demais países, acenderam conflitos religiosos e tribais, destruíram nações e as organizações políticas. Em síntese, com a anarquia e o caos, ensejaram a proliferação de verdadeiros ‘Estados’ armados com exércitos agressivos, exércitos de terroristas aptos a agir em qualquer parte do mundo.
O Estado Islâmico e seu califado no Iraque e na Síria são fruto da invasão e destruição do Afeganistão, do Iraque, da Síria e da Líbia. A França interveio na Síria e os EUA financiam e dão assistência militar (inclusive com o fornecimento de armas e munições aos terroristas (que eles batizam de ‘rebeldes’) que lutam contra a ditadura de Bashar al-Assad, que, por seu turno, apoiado pela Rússia, combate o EI.
Os facínoras do EI colhem o fruto da destruição dos Estados árabes, de suas organizações sociais e politicas, e, nomeadamente, da destruição das forças armadas do Iraque, da Síria e da Líbia, cujos quadros foram atraídos pelos fanáticos, que também se beneficiam, ainda graças à intervenção do ‘Ocidente’, com o rompimento do tênue equilíbrio de forças entre xiitas e sunitas consequente das derrubadas de Saddam Hussein e Muamar Kadafi.
Os EUA, após a ignomínia do 11 de Setembro, conduziram operações secretas, com drones e execução de civis suspeitos em 70 países. Da injustificada invasão do Iraque – país que nada tinha com o ataque covarde – resultou uma guerra desastrosa (condenada até mesmo nas memórias do Bush pai) que fortaleceu a Al Qaeda (lembremos mil vezes, criada pelos EUA para combater os soviéticos no Afeganistão) e propiciou as condições para o surgimento do EI. Deu no que deu. O medíocre François Hollande, elevado pelos terroristas à condição de ‘presidente marcial’ fala em guerra.
Que virá depois?
O simplório Jeb Bush, irmão do Bush 2 (o principal responsável pela depredação do Iraque e suas consequências vividas hoje), já declarou, em campanha pela candidatura republicana à presidência dos EUA, que o atentado de Paris é “uma tentativa de destruição da civilização ocidental”.
Antes dele, e melhor e mais perigosamente do que ele, Samuel Huntington já havia anunciado o ‘choque de civilizações’ (na essência a ‘guerra’ contemporânea teria como eixo os conflitos culturais e religiosos, opondo nossas civilizações), dando sua lamentável contribuição para a intolerância e o ultra anti-islamismo que ameaça infeccionar a sociedade norte-americana.
O cenário é muito mais complexo do que supõe a mediocridade, dividindo o mundo entre os ‘bons’ (nós) e os ‘maus’ (os outros) com o que a nova direita europeia (ex-socialistas incluídos) e os republicanos estadunidenses simplesmente repetem o maniqueísmo dos fanáticos que pretendem combater, os ‘cruzados’ com sinal trocado, pois, hereges, agora, somos nós, os que não seguimos Alá.
Algozes e vítimas, cada um a seu modo, se identificam na estratégia de propagar o ódio contra os que não compartilham sua ideologia. O ódio de um é a força que alimenta o ódio do outro e, assim, se tornam irmãos siameses e interdependentes.
Voltamos às Cruzadas?
A violência terrorista avança no mundo e agora grassa em uma Europa onde a xenofobia não é nova mas é crescente. As manifestações de preconceitos étnicos, especialmente contra os árabes, soma-se à intolerância religiosa, particularmente o anti-islamismo, reforçado pelos atos de terrorismo.
Essas manifestações prosperam em todo o mundo, mas avançam principalmente nos EUA (onde se tornam corriqueiras entre os pré-candidatos republicanos) e na Europa, símbolo de civilização que não conhece a inocência, mas sim a guerra como a arte da política: guerras fratricidas, guerras de conquista, séculos de exploração e depredação coloniais, uma história de colonialismo, pirataria, opressão dos povos subjugados. Em um só século duas guerras mundiais e o holocausto.
Roberto Amaral
Roberto Amaral é escritor e ex-ministro de Ciência e Tecnologia

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Olha aí "coxinhas" do meu Brasil

Olha aí "coxinhas" do meu Brasil

Apesar das notícias mentirosas serem desmentidas, a imprensa "marrom" não para de jogar veneno. O pior de tudo é que a parte burra da "classe média" acredita em tudo o que a "família marinho", lídima representante da elite que comanda as parcelas subalternas desse nosso Brasil varonil publica e diz. Fazer o quê?


noo

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

...E VEM AÍ MAIS UM BIG BROTHER

Trajano Jardim*
A luta que os trabalhadores na educação do Brasil para serem valorizados e reconhecidos como necessidade social e de relevância para a construção de uma nação diferente, justa e desenvolvida, tem sido constante. Principalmente no ensino privado, onde não há nenhum instrumento de regulamentação do setor, hoje dominado pelos Fundos de Investimentos internacionais..

Todos os políticos, de todos os matizes, se perguntados, respondem que a educação é prioridade nos seus programas eleitorais. Mesmo para os que se opuseram ao mísero “piso salarial” e entraram com Ação de Inconstitucionalidade (ADIN) no Supremo Tribunal Federal para não cumprir a determinação legal. Determinação exigida apenas para o setor público.

De todas as profissões que exigem a graduação superior, o professor recebe três a quatro vezes menos que o salário inicial da maioria. Não estamos falando nem querendo comparar com o judiciário. Isso já seria covardia. Não apenas em relação a salários, mas, também, pelas benesses auferidas por essa privilegiada categoria.

E não se trata aqui de querer menosprezar qualquer outra profissão, ou como diz o dito popular “puxar brasa para a nossa sardinha”. Trata-se apenas de isonomia para o mesmo grau de formação. Aos professores é exigida graduação, pós-graduação, doutorado, pós-doutorado, formação continuada e o escambau para exercer suas atividades. A um juiz, procurador, delegado ou outra função afim, é exigido somente a simples graduação e o concurso.

Se mudarmos o foco da discussão para as condições de trabalho, a comparação continuará no campo da disparidade. Basta olharmos as condições das escolas públicas desse nosso brasilzão. A maioria sem o mínimo de meios para que se possa realizar um ensino de qualidade e atrativo para manter o aluno na escola. E no setor privado a situação é muito mais grave. O professor é obrigado a enfrentar salas com excesso alunos, quase sempre em condições precárias de trabalho e com salários inacreditáveis.

Na última edição do BBB vimos nas mídias informativas, de todos os conteúdos, a discussão sobre um possível estupro em rede nacional no programa dos “heróis” do Pedro Bial. (Quem diria. O que o dinheiro não faz?). Incrível a repercussão que deram ao assunto. É a prova cabal do baixo nível cultural de grande parcela da nossa população.  Por isso, não causa espanto as manifestações de rua, se atentarmos para as declarações dos entrevistados.

Dezenas de teses foram desenvolvidas sobre o assunto. Desde teorias “sociológicas de gênero”, passando pela “teoria do preconceito”, desembocando até em “análises psicanalíticas” pseudo freudianas, que tentam explicar as relações de sexo explícito ao vivo em horário nobre e em cores, no “Motel Globo/BBB”.  

Estranhamente pessoas que se dizem politizadas e intelectualizadas entraram nessa discussão pueril e sem qualquer conteúdo. Além dos poderes públicos representados pelo Ministério Público e pela Polícia Civil, todos contribuindo,  como diria o saudoso Stanislaw Ponte Preta, com o “festival de besteira que assola o País”.

Se o Brasil fosse um país sério, que quisesse ascender como potência mundial, já teria proibido a baixaria que tomou conta da programação das emissoras de televisão e de outras mídias alhures. Afinal o setor de comunicação, por determinação da CF do Brasil, é concessão do governo. Isto é, bem público que deve ser gerido e fiscalizado pela sociedade.

Para isso, o governo deveria instituir o Conselho de Comunicação Social, que as grandes empresas monopolistas do setor teimam em chamar de tentativa de “limitar a liberdade de expressão”. Como se liberdade de expressão fosse de caráter absoluto, sem qualquer parâmetro ético, social ou moral.

Durante a 68ª Assembleia Geral da SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa), na apresentação dos relatórios por país, da Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação da organização, realizada em São Paulo no mês de agosto de 2012, ficou explícito no informe brasileiro apresentado pela superintendente da Folha da S.Paulo e ex-presidente da Associação Nacional dos Jornais, Judith Brito, a posição dos barões da mídia brasileiros, que se manifestaram contra qualquer tipo de controle social para o setor.

Enquanto isso, apesar do esforço da campanha "Quem financia a baixaria é contra a cidadania", lançada pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, programas medíocres, que atentam contra o direito de expressão da sociedade e que é ignorado pelos meios de comunicação, continuam sendo exibidos sem problemas.  
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Já pensaram se no horário do BBB fosse apresentado o “Telecurso”, que é levado ao ar de madrugada, quando o trabalhador, que concentra a maior parcela que precisa estudar, está saindo de casa para o batente? “Há! Impossível”! Diriam os magnatas da comunicação.  “Não haveria patrocinadores. Não dá Ibope”.

Todavia, esses programas sobrevivem das empresas públicas que patrocinam o setor.  Só a Petrobras, com a agência contratada ArtPlan, tem um orçamento de mais de quinhentos  milhões de reais para gastar em publicidade.

No pensamento desse grupo, educar o povo não interessa. Afinal é preferível deixa-lo no limbo do analfabetismo funcional. As escolas podem ficar como estão. A educação de qualidade, com professores bem formados e valorizados, é obrigação do Governo. Ele, governo, que se vire. O que interessa é usar os recursos destinados à educação para enriquecimento próprio. Para isso, “é preferível o BBB a um bom ensino”.
“Vida de gado. Povo marcado eh! Povo feliz”.
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*Jornalista – Professor Universitário – Pós-Graduado em Docência no Ensino Superior


O PT ou se renova ou se mediocriza de vez


16/08/2015
      Reza um mito antigo da cultura mediterânea que, de tempos em tempos, a águia, obsevando em seu corpo sinais de envelhecimento, fraqueza dos olhos penetrantes, e flacidez das garras se propunha renovar-se totalmente. Assim fazia também a fênix egípcia que aceitava morrer para voltar rejuvenescida para nova vida. Qual era a estratégia da águia? Punha-se a voar cada vez mais alto até chegar perto do sol. Então as penas se incendiavam e ela toda começava a arder. Quando chegava a este ponto extremo, ela se precipitava do céu e se lançava qual flecha nas águas frias do lago. O fogo nela se apagava.
E então ocorria a grande transformação. Através desta experiência de fogo e de água, a velha águia voltava a ter penas novas, garras afiadas, olhos penetrantes e o vigor da juventude.
Queremos aplicar este mito ao PT metido numa crise crucial que o obriga a renovar-se como a águia ou aceitar o lento envelhecimento até perder todo o vigor vital e a capacidade de renovação da sociedade, como era seu sonho primordial.
Para entender melhor esse relato e aplicá-lo ao PT precisamos revisitar o filósofo Gaston Bachelard e o psicanalista C. G. Jung que entendiam muito de mitos e de seu sentido profundo. Segundo eles, fogo e água são opostos. Mas quando unidos, se fazem poderosos símbolos de transformação.
fogo simboliza a consciência, o vigor e a determinação de abrir caminhos novos. A água, ao contrário, representa as forças do inconsciente, as dimensões do cuidado e a capacidade de entender o sentido secreto das crises.
Passar pelo fogo e pela água significa, portanto, integrar em si os opostos: a determinação com a descoberta do sentido real das crises. Elas acontecem para purificar, limpar de todo tipo de agregado e deixar aparecer o essencial. Ninguém ao passar pelo fogo ou pela água permanece intocado. Ou sucumbe ou se transfigura, porque a água lava e o fogo purifica.
A água nos faz pensar também nas grandes enchentes como conhecemos em 2011 nas cidades serranas do Estado do Rio de Janeiro. Com sua força tudo carregaram, especialmente o que não tinha consistência e solidez. Numa única noite morreram 903 pessoas e 32 mil ficaram desabrigadas. Foi um cataclismo de ressonância mundial. É o poder invencível da água.
O fogo nos faz imaginar o cadinho ou as fornalhas que queimam e acrisolam tudo o que é ganga e que não é essencial. O ouro e a prata passam por esse processo purificador do fogo.
São notórias as crises existenciais. Ao fazermos esta travessia pela “noite escura e medonha”, como dizem os mestres espirituais, deixamos aflorar nosso eu profundo sem as ilusões do ego superficial. Então amadurecemos para aquilo que é em nós autenticamente humano e verdadeiro. Quem recebe o batismo de fogo e de água rejuvenesce como a águia do mito antigo.
Mas existem também as crises maiores, de todo um projeto e mesmo de todo um partido como o PT. Ele tem que assumir a verdade: teve muitos acertos que beneficiaram milhões que viviam na pobreza e na marginalidade. Mas também cometeu erros evitáveis: deixou-se tomar pelo “demônio” do poder como fim em si mesmo quando deve ser sempre meio. Houve vergonhosa corrupção de pessoas importantes que destruíram o sonho de toda uma multidão que acreditava e se esforçava para viver o novo factível.
Mas abstraindo das metáforas e indo diretamente ao conteúdo real: que significa concretamente para o PT rejuvenescer-se como a águia? Significa entregar à morte tudo o que de errado praticou e que impede o sonho de despertar.
O velho no PT são os hábitos e as atitudes da velha política que servia de instrumento para crescer e perpetuar-se no poder. Com isso perdeu o sentido originário do poder como meio de transformação em benefício das grandes maiorias e jamais como fim em si mesmo. Tudo isso deve ser entregue à morte para o PT poder inaugurar uma forma de relação com os verdadeiros portadores do poder que é o povo e os movimentos sociais.
Rejuvenescer-se como águia significa também desprender-se de convicções enrijecidas, de certa arrogância de representar o melhor caminho e de alimentar a pretensão de estar sempre certo. Muitos dirigentes continuam manejando conceitos ultrapassados, incapazes de oferecer respostas novas à crise que devasta os países centrais e agora nos atinge poderosamente. Rejunecer-se como águia significa ter coragem para recomeçar e estar sempre aberto a escutar, a aprender e a revisar.
Mas não é isso que está ocrrendo. Até hoje esperamos uma revisão sincera e o reconhecimento público de seus erros. Seus líderes imaginam que assim fazendo, dão armas aos adversários, quando mostrariam ser mais fiéis mais à verdade do que à própria imagem.
O PT que se apresentava como uma águia de alto voo, corre o risco de se transformar em galinha comum que apenas cisca o chão e faz voos rasteiros. Não é esse o destino que a história lhe quer reservar.
Por último, se o PT quiser se renovar como uma águia deve regressar ao seio do povo. Este lhe dará belos exemplos de luta, de trabalho, de inteireza ética e também duras lições. Essa imersão é salvadora e renovadora como foi para a águia o arder em fogo e o mergulhar nas águas frias. Só assim pôde se rejuvenescer. Para o PT isso não é uma metáfora mas um desafio.
Leonardo Boff é colunista do JB on line e escritor

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Se os movimentos sociais e os trabalhadores não tomarem posição a vaca vai pro brejo

Se os movimentos sociais e os trabalhadores não tomarem posição a vaca vai pro brejo

*Trajano jardim

A prisão de Zé Dirceu decretada pelo Imperador Sérgio Moro, Primeiro e Único da republiqueta de Curitiba, é o marco  da ofensiva da direita, apoiada pela mídia reacionária e com o suporte do setor da Polícia Federal e do Ministério Público remanescentes da ditadura militar e das ideias colonialistas desse país patrimonialista e oligárquico. Dessa sociedade lídima representante Casa Grande.
Não há o propósito de defender qualquer ato de corrupção. Somos, por princípio, que o crime de corrupção deve ser combatido em todas as suas formas, desde que não haja privilégios e seja garantido o direito constitucional da presunção da inocência.
Os setores de esquerda, o movimento sindical, os partidos ditos de esquerda, principalmente o PT, a maioria dos intelectuais progressistas, estão na posição descrita no poema de Eduardo Alves da Costa, um poeta e dramaturgo carioca, que há 40 anos escreveu um texto que se transformou em um hino na luta contra a ditadura militar, no Brasil. Chama-se “No Caminho, com Maiakóviski” e que muita gente pensa que seja do maior poeta russo contemporâneo.
Na primeira parte do poema de Eduardo diz:

“Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. 
E não dizemos nada. 
Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, 
e não dizemos nada. 
Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa,
 rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. 
E já não podemos dizer nada.”

Francamente não há explicação para o mutismo em que se encontra a maioria democrata e progressista da sociedade, neste instante em que o setor mais reacionário do país, os mesmos defensores das políticas patrimonialistas e oligárquicas e entreguistas, que sempre dominaram e oprimiram o povo e os trabalhadores.
Se todos nós, que fomos para à luta para acabar com o arbítrio colocando a nossa vida em risco e por aqueles que foram trucidados pela violência, muitos que não tiveram se quer, o direito de ser sepultado, não levantarmos a nossa voz, com certeza a VACA VAI PRO BREJO COM CORDA E TUDO!


*Jornalista Profissional – Professor Universitário

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Altamiro Borges: Dirceu e o show judicial-midiático

Agosto, "o mês do cachorro louco", começou com ferocidade. A midiática prisão do ex-ministro José Dirceu, na manhã desta segunda-feira (3), mostra que o período será de intensa turbulência política. O Tribunal de Contas da União (TCU), apesar de estar mais sujo do que pau de galinheiro, deverá se pronunciar sobre as contas do governo Dilma em 2014.

Por Altamiro Borges*, em seu blog


Adriano Vizoni/ Folha
"A prisão de José Dirceu reanima os fascistas mirins e os setores da mídia envolvidos na onda de desestabilização do governo"."A prisão de José Dirceu reanima os fascistas mirins e os setores da mídia envolvidos na onda de desestabilização do governo".
Já o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) dará o seu veredito sobre os gastos de campanha pela reeleição da petista. E a Operação Lava-Jato, que une suspeitos agentes da Polícia Federal e do Ministério Público, seguirá produzindo seus factoides. Toda esta orquestração ajuda a incendiar o clima para as marchas golpistas convocadas para 16 de agosto.

Como festejou o jornalista-corvo da Folha, Igor Gielow, "a prisão de José Dirceu recoloca o PT na mira da Operação Lava Jato". Em julho, os holofotes do show judicial-midiático tinham sido desviados para Eduardo Cunha, presidente da Câmara Federal e um dos principais inimigos do governo federal e do PT. O envolvimento do lobista no escândalo de corrupção da Petrobras deixou desnorteado até os líderes dos protestos golpistas, que contavam com Eduardo Cunha para acelerar o processo de impeachment contra Dilma. A prisão de José Dirceu reanima os fascistas mirins e os setores da mídia envolvidos na onda de desestabilização do governo.

Igor Gielow, que não esconde seu ódio ao chamado lulopetismo, aposta na prisão do ex-ministro para desgastar ainda mais a presidenta. "Dirceu é um símbolo do PT. É chamado até hoje, depois de ter sido condenado e preso no mensalão, de 'guerreiro do povo brasileiro' por militantes em encontros... Mesmo que diga que tudo isso é problema do partido, o Palácio do Planalto tem vários motivos para se preocupar. As operações de Dirceu se deram quando ele não estava mais no governo, mas sua influência e trânsito nas gestões Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff poderá ser demonstrada".

Sem dar um minuto de trégua, a oposição midiático-partidário segue na ofensiva. Mesmo que o golpe do impeachment não vingue - por temor do caos econômicos e da convulsão social -, ela vai obtendo importantes vitórias na tática de "sangrar" Dilma e "matar" Lula. Tudo é feito para desgastar o atual governo, deixando-o acuado e desnorteado, e para satanizar a principal líder da esquerda brasileira. Ao anunciar a prisão de José Dirceu, o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima não vacilou em citar o ex-presidente, afirmou que seu governo "deu início ao esquema de corrupção na estatal".

O roteiro do show judicial-midiático já está traçado. O triste é que o Palácio do Planalto parece que ainda não se deu conta que o seu tempo está acabando!

*Altamiro Borges é presidente do Centro de Estudos de Mídia Barão de Itararé e secretário Nacional de Mídia do PCdoB.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

A que ponto chegou a justiça brasileira

A que ponto chegou a justiça brasileira
O Excelentíssimo Senhor Ministro do STF Gilmar Mendes, que há um ano "sentou" em cima do processo que define sobre a proibição de doação de campanha por empresas privadas, que já tem 6 votos a favor da proibição,  sem o mínimo pudor, assaca acusações contra a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), uma instituição respeitada e que tem em suas tradições juristas de ilibada conduta, não pode ser enxovalhada por atitudes como essa, de alguém que não respeita os princípios democráticos. 
RESPOSTA  DO COLÉGIO DE PRESIDENTES DA SECCIONAIS DA OAB

O colégio de Presidentes de Seccionais vem reiterar a resposta já apresentada pela OAB Nacional em relação à ofensa perpetrada pelo ministro Gilmar Mendes contra nossa instituição.
A OAB possui 85 anos de credibilidade e sempre respeitou todos os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).
Entendemos que, numa sociedade democrática, deve se haver o direto de discordar. O pluralismo é um princípio constitucional.
Contudo, a educação e o alto nível do debate de ideias se impõe. Lamentamos que, em processos naturais de uma democracia, busque-se a desqualificação de instituições como estratégia para se vencer um debate de argumentos.
O que a sociedade aguarda do ministro Gilmar Mendes é seu o voto no julgamento que discute o financiamento de empresas nas eleições.
É dever do ministro manifestar-se nos autos, não através de comentários caluniosos na imprensa.
Como costuma pronunciar o presidente nacional de nossa entidade, Marcus Vinícius Furtado Coêlho, o único partido da OAB é a Constituição da República e nossa ideologia é o Estado Democrático de Direito.
Colégio de Presidentes das Seccionais da OAB

sexta-feira, 8 de maio de 2015

DOIS DESTINOS

Dois destinos

Luis Fernando Verissimo

Você nasceu num vilarejo da África Equatorial. Não importa o seu nome, você é uma entre milhares. Além das outras desgraças que a esperavam, você nasceu mulher. Sobreviver ao parto já foi uma vitória sobre as estatísticas. Chegar viva à sua idade sem sofrer qualquer tipo de mutilação foi um milagre. Sua mãe morreu de uma epidemia, você mal a conheceu. Seu pai você nunca soube quem foi. E seu destino está fixado nas estrelas.

Deve haver uma palavra na sua língua para “destino”. Talvez seja a mesma palavra para “danação”. Sua biografia já foi decidida, antes de você nascer. Quem a decidiu você também nunca soube quem foi.

Seu destino está fixado nas estrelas – mas as estrelas se movem. Não estão fixadas no mesmo lugar todas as noites. E algumas fogem. Você vê os riscos que deixam no céu as estrelas que fogem. E você decide fugir também. Fugir do seu destino. Fugir da danação. É pouco provável que exista o termo “livre-arbítrio” na sua língua. Você o descobre em você. Você inventa sua própria liberdade.

E você foge da sua biografia. Com outros do seu vilarejo, caminha para o norte, para o Mediterrâneo. Não morre no caminho – outro milagre! Não morre sufocada no barco abarrotado de fugitivos que atravessa o Mediterrâneo. Não morre afogada antes de chegar ao seu outro destino, o destino que você escolheu. E começar outra biografia.

Ou:

Você nasce numa cidade chamada Londres. Seu nome não só importa como é sujeito de uma especulação nacional, até ser escolhido. Sua mãe é linda, seu pai é rico e tem emprego garantido, sua foto provoca êxtases, você já é uma celebridade internacional. Ah, e um detalhe: você é a quarta na linha de sucessão ao trono da Inglaterra. Dependendo da disposição das estrelas, pode acabar rainha. Nada lhe faltará.

Mas mesmo que queira, jamais poderá fugir da biografia que prepararam para você. Danação.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

O senador Hélio do PSD tenta fazer mais uma “gambiarra”

O senador Hélio do PSD tenta fazer
mais uma “gambiarra”

O policial federal Luís Cláudio Avelar (PCdoB), suplente do senador Hélio José (PSD), do Distrito Federal, apelou ao Tribunal Superior Eleitoral, por meio da petição de número  5957, protocolada pela Hauschild Advogados Associados em fevereiro, na semana da posse, para assumir a vaga de senador alegando  infidelidade partidária. Hélio trocou o PT pelo PSD em 2012 e, pela lei, o PT teria o direito a requerer o cargo à ocasião da posse do suplente, mas passado o prazo e nada protocolado, a oportunidade agora é do segundo suplente Avelar. A relatoria está com o ministro Gilmar Mendes no TSE.
Conforme comentário feito neste blog, Hélio já ficou numa situação delicada em relação ao próprio Rollemberg. Há tempos, o então senador, antes de tê-lo como suplente, o acusou de violência sexual contra uma menor, o que Hélio rechaçou, embora o processo continue tramitando na Justiça.
Outro problema que chamuscou a militância de Hélio José, foi o caso do uso de ligação irregular de energia elétrica permitido por ele, quando em um cargo de direção na Companhia de Energia Elétrica de Brasília (CEB), para uma festa particular de aniversário, o que lhe rendeu o apelido de “Hélio gambiarra”, pelo qual ficou conhecido nas esferas políticas do Distrito Federal.
Agora, o senador Hélio José, parece querer tentar mais uma “gambiarra”. Ele migrou para o PSD em março de 2012, sendo que a legislação permite a mudança apenas para partidos novos, dentro do prazo máximo de 30 dias após o registro do Estatuto do novo partido. Mesmo com a claridade da lei, a filiação ao PSD foi bem depois do prazo permitido. Embora nos anais do TRE conste a data da efetivação da filiação, o senador quer apresentar uma ficha com data diferente   para tentar burlar a lei.

O suplente Cláudio Avelar diz estar confiante na eficiência do TSE e no Relator do processo, Ministro Gilmar Mendes, que em julgados anteriores, deixou bem clara sua posição, em relação à infidelidade partidária.


segunda-feira, 6 de abril de 2015

AQUELE 1º DE ABRIL, EU VIVI

Trajano Jardim -  Jornalista Profissional - Professor

Nos dias que antecederam o 1º de abril (de 1964), a agitação deixava todos tensos. O comício da Central do Brasil, de 13 de março, criara um misto de confiança e ao mesmo tempo de preocupação sobre que rumo o País tomaria. Cada setor da sociedade tinha uma avaliação particular de qual seria o caminho. Boatos sacudiam os noticiários dos jornais, do rádio e da (ainda) televisão que estava ainda engatinhado.  O Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), de há muito, vinha se reunindo com regularidade, com o objetivo de avaliar a situação e organizar a resistência ao golpe que, na opinião de alguns, “estava em marcha”.
 
Na sede da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria (CNTI), a maior organização de trabalhadores da América Latina, o entra e sai era constante. A cada minuto chegava nova informação sobre a situação. Os dirigentes máximos do CGT, o portuário Osvaldo Pacheco, os tecelões Clodesmidt Riani, e Hércules Correia estavam em contato permanente com as altas esferas políticas, com o objetivo de obter informações sobre o andamento da crise a cada momento.

O CGT convocou uma reunião de emergência em 29 de março, tendo em vista a avaliação de que as forças golpistas, que no dia 19 liderara a “Marcha com Deus pela Liberdade”, se articulavam para derrubar o presidente João Goulart e instituir uma ditadura no País. Participei dessa reunião como representante dos gráficos do então Estado da Guanabara. Naquela reunião foi discutida a proposta do então deputado Leonel Brizola de implantação do Estado de Sítio pelo governo João Goulart. A maioria das principais lideranças das forças democráticas e progressistas se posicionou contra tal proposta, endossando a argumentação do líder do PCB, Luis Carlos Prestes, de que “historicamente o Estado de Sítio sempre foi contra a classe trabalhadora”. A plenária do CGT decidiu organizar a Greve Geral Nacional em defesa da democracia que estava seriamente ameaçada, na visão do CGT.

O Comando Geral dos Trabalhadores, na reunião da noite de 30 de março, avaliou que o golpe era iminente. Assim, foi aprovada a deflagração da Greve Geral Nacional em 1º de abril. Naquele momento a ideia era de que só a resistência dos trabalhadores nas ruas poderia barrar o golpe. Afinal, só na Guanabara o movimento sindical tinha conseguido mobilizar mais de 100 mil pessoas no comício de 13 de março.
O trabalho de mobilização foi intenso. O transporte de massa, que naquela época era feito pelos trens da Central do Brasil e da Leopoldina, foram totalmente paralisados e impediu que a população viesse para a rua. A Rádio Nacional foi ocupada pelos funcionários e abriu espaços para que os dirigentes sindicais convocassem os trabalhadores para as ruas. Fui indicado pela diretoria do sindicato para ir a Rádio Nacional fazer uma convocação aos trabalhadores gráficos para apoiar a greve.

Quando deixei a rádio com alguns companheiros, chegamos ao Sindicato e soubemos que a polícia e o exército haviam ocupado a Rádio Nacional e prendido os radialistas e funcionários que estavam no comando da emissora e o presidente Jango tinha embarcado para Brasília, com o objetivo de organizar a resistência ao golpe.

Ficamos de vigília no Sindicato esperando alguma orientação sobre mobilização para lutar contra o golpe. Corriam boatos de que o Almirante Aragão comandante do Corpo de Fuzileiros Navais iria organizar grupos de voluntários. Na Cinelândia, nós, os militantes comunistas, vimos que a situação estava sob controle do exército e da polícia.

Algumas dezenas de pessoas se manifestavam com palavras de ordem “fora Lacerda”, “viva Jango”. Sabia-se que o prédio da UNE fora incendiado pelo Comando de Caça aos Comunistas e que em Brasília os militares favoráveis ao golpe de Estado tinham pretensões de prender o presidente Jango e este embarcara para o Rio Grande do Sul, onde estaria mais seguro.

Nossas esperanças se esvaíram na fina chuva daquela fatídica quarta-feira. A movimentação de carros da polícia era intensa. Naquele momento éramos 5, talvez 6, gráficos militantes comunistas, desnorteados em pleno centro da cidade do Rio de Janeiro. Um deles, Francisco Nunes, que era secretário de Base dos gráficos do PCB, o “Velho Partidão”  morava na Piedade, um bairro de classe média, distante 30 km do centro do Rio.

Começamos a caminhar pela Avenida Rio Branco vagarosamente fazendo as nossas conjecturas do que seria o dia seguinte. Como não tínhamos informações do desfecho daquela situação, a nossa esperança era de que o esquema militar do Jango funcionaria, a partir do Rio Grande do Sul, onde o comandante do Exército era fiel a João Goulart. Essa era a nossa esperança, que nos dias que se seguiram mostrou-se que não passava de esperança. Jango não aceitou o enfrentamento.

Caminhávamos sob a fina chuva há algumas horas. Não havíamos nos alimentado por todo o dia e não sentíamos fome nem sede. Francisco Nunes instintivamente seguia rumo a Piedade. Analisando a situação de cada um de nós, concluímos que o mais visado era eu. Por este motivo não deveria ir para casa naquela noite. O Nunes aconselhou-me ir para sua casa. Todos aceitaram a ideia. Os demais companheiros tomaram o rumo de casa e eu segui com o camarada Francisco Nunes. Chegamos à piedade por volta das 10,30 horas. Tínhamos saído da Cinelândia às 15 horas. Caminhamos 7 horas e meia, molhados até os ossos.
A nossa preocupação maior era saber das notícias pela televisão, que naquela época era ainda em preto e branco. Na telinha, ainda oval, aparecia o governador da Guanabara, Carlos Lacerda, com uma metralhadora em cima da bancada, que se apresentava como o grande líder do movimento golpista. Para nossa decepção, os noticiários davam conta de que o Congresso, embora o presidente constitucionalmente eleito estivesse ainda em território nacional, considerou vaga a presidência da República, destituindo de forma ilegal o mandatário do País legalmente eleito.

Naquela noite, por motivos óbvios, não pregamos os olhos. As emissoras eram poucas. TV Tupi, Rio, Excelsior e as rádios.  Ficamos navegando em busca de notícias que pudessem nos dar algum alento. Para nossa decepção as notícias, tanto nas TVs quanto nas rádios davam conta de que estávamos sendo derrotados. O golpe se consolidava. Algumas lideranças sindicais já apareciam como procuradas. Principalmente os dirigentes do Comando Geral dos Trabalhadores.

O dia amanheceu e só aí a “ficha caiu”. O que fazer? Naquela época a comunicação não tinha as facilidades de hoje. Os contatos eram interpessoais e institucionais. Francisco Nunes e eu resolvemos ir até o centro da cidade - agora de condução - ver como estava a situação do Sindicato. No prédio onde funcionava a sede fizemos contato com o Fabrício, que era o nosso companheiro que administrava a entidade. Ele nos colocou a par da situação e disse que só havia feito contato com Walter Torres, diretor-tesoureiro do Sindicato.

Walter Torres era de família religiosa e conservadora, mas era um companheiro leal e solidário. Com o golpe militar nossas relações entrecruzaram-se de forma muito forte. Sabia-se que, pelas minhas atividades políticas partidárias, a qualquer momento eu poderia ser preso e ele poderia ter complicações. Mas Torres resolveu enfrentar e nós garantimos a continuidade do Sindicato dos Gráficos, enquanto todos os demais diretores esconderam-se.

Torres tinha um parente que era padre e era o pároco da Igreja Nossa Senhora da Lampadosa, na Avenida Passos, 15, perto da Praça Tiradentes, próximo ao Sindicato. Por 3 meses fizemos da igreja o nosso local de funcionamento. Ajudávamos a fazer velas e em outros trabalhos. A poeira baixou e retomamos o Sindicato. Eu voltei para a empresa onde trabalhava há 7 anos e em 1966, a repressão estava cada vez mais intensa, e fui demitido por razões óbvias.

Concluí que a minha vida a partir daquele momento iria virar “de ponta a cabeça”. Não queria acreditar nas previsões do velho Erasmo, camarada que me filiou ao Partidão, quando dizia “esse é um golpe para 20 anos”. Infelizmente ele acertou em cheio. Foram 20 anos, dos quais 7 eu vivi na clandestinidade  e por quase 2 estive exilado na saudosa União Soviética.

Hoje fui reconhecido como “perseguido político” e recebi as “desculpas do Estado brasileiro”. Um sofisma que jamais trará de volta milhares de militantes, alguns fraternos irmãos camaradas que sofreram torturas físicas e psicológicas, por terem como crime a esperança de construir uma sociedade justa, fraterna e igualitária. Deixaram pela estrada da vida seus sonhos, interrompidos pela violência absurda e cruel, que esperamos ver reparada de fato, sem sofismas. Com a condenação dos violentadores.

Aquele 1º de abril, eu vivi e sobrevivi.



 

  



segunda-feira, 30 de março de 2015

Os urros da Casa Grande ecoaram pelo Brasil

No domingo, 15 de março, saíram às ruas centenas de milhares de pessoas, com bandeiras dos mais diversos matizes. A maioria defendendo propostas antidemocráticas, em que pediam a derrubada da presidente Dilma Rousseff, atrelada a luta contra a corrupção ancorada na chamada Operação Lava-Jato que vem desencadeando um processo de liquidação da maior empresa brasileira, a Petrobras, em que a participação do segmento de petróleo e gás natural no PIB (Produto Interno Bruto, que mede a soma de riquezas produzidas no país) aumentou de 3%, em 2000, para 12%, em 2010, e chega a 13%, nos dias de hoje.

O Brasil já viveu na sua história momentos de histeria iguais a estes. Todos eles conduzidos pelas oligarquias nacionais e interesses de grupos internacionais de várias tendências e, hoje, a serviço do projeto de dominação do Consenso de Washington.

De acordo com a história contemporânea, foi assim no pós-guerra, na democratização, quando o Partido Comunista Brasileiro foi legalizado e nas eleições gerais de 1946, que conseguiu eleger uma bancada de 14 deputados federais e um senador, o que causou perplexidade nos setores conservadores, que viam nisto um perigo iminente contra os seus interesses. Em 1950, com a volta de Vargas ao poder, com o seu projeto de cunho trabalhista e desenvolvimentista, foi argumento para os grupos conservadores pressionarem o governo até levá-lo ao suicídio.

Em 1956, com a eleição de Juscelino, novas tentativas reacionárias buscavam impedir que o Brasil caminhasse rumo à construção de uma sociedade que, dentro dos moldes capitalistas, fosse mais justa e solidária com seu povo, diminuindo o fosso de desigualdade que imperava desde o período colonial. Ainda dessa vez, o pensamento de cunho nacionalista existente em uma parcela dos militares brasileiros impediu, momentaneamente, o retrocesso e Juscelino pode levar o projeto de desenvolvimento iniciado por Vargas.

Com a ascensão de João Goulart em 1961, começou o movimento denominado “reformas de base”, onde estavam reunidas iniciativas que visavam alterações bancárias, fiscais, urbanas, administrativas, agrárias e universitárias. Para completar, almejava-se oferecer o direito de voto para analfabetos  e às patentes subalternas das forças armadas. As medidas causariam uma participação maior do Estado em questões econômicas, regulação do investimento estrangeiro no país e a limitação da remessa de lucros para o exterior. Entre as mudanças de reformas pretendidas, em primeiro lugar, estava a reforma agrária, com o objetivo de reduzir os assassinatos de trabalhadores rurais e possibilitar que milhares de camponeses tivessem acesso às terras.

 O golpe de Estado que tiraria, em 1º de abril de 1964, o presidente João Goulart do poder, o que encerrou as tão almejadas reformas de base (que levariam o país na direção de uma sociedade desenvolvida, socialmente justa) e estabeleceu uma sangrenta ditadura militar no país.

O fim do regime militar, a eleição de um sindicalista metalúrgico para presidente da República e a eleição da primeira mulher para presidente, com dois mandatos consecutivos,  provocou a ira da oposição. Mais uma vez, as oligarquias brasileiras se manifestam de forma golpista, e passam a fomentar a derrubada do governo democraticamente eleito, com apoio da mídia conservadora, que exerce domínio absoluto na informação brasileira.

As últimas manifestações mostraram o caráter da elite brasileira. A turba representante da Casa Grande vociferava palavras de ordem, que iam desde ofensas pessoais à presidente, até pedidos de volta dos militares ao poder. Atacavam todas as medidas dos governos Lula/Dilma que representassem avanços culturais e sociais, numa demonstração de que vivemos uma crise civilizatória de consequência imprevisível.

Em Brasília, um energúmeno - que se diz professor de história-, ajudava a empunhar uma faixa contra o cientista da educação brasileira, professor Paulo Freire, reconhecido mundialmente pelo seu método revolucionário de alfabetização, assumido pela ONU (Organização das Nações Unidas) e aplicado em vários países. Para os verdadeiros educadores, que não colocam a ideologia como elemento de embotamento do pensamento, como dizia Freire, a pedagogia do dominante é fundamentada em uma concepção bancária de educação, da qual deriva uma prática totalmente verbalista, dirigida para a transmissão e avaliação de conhecimentos abstratos, numa relação vertical, o saber é dado, fornecido de cima para baixo; é autoritária, pois manda quem sabe. Nesta concepção, denominada por Paulo Freire de Educação Bancária, o sujeito da educação é o educador, sendo os educandos como vasilhas a serem enchidas pelo conhecimento depositado pelo educador. 

Assim, nós que pensamos a educação como uma proposta de oposição a esta realidade contrária à educação como prática da liberdade, repudiamos esse pseudo professor, um representante legítimo dessa elite opressora e patrimonialista, que reflete os conceitos de dominação da Casa Grande à Senzala.

Professor Trajano Jardim
Diretor do SINPROEP-DF


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