segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

“Je  sui Charlie Hebdo” e  também os outros

Trajano Jardim - Professor e Jornalista

O atentado terrorista ao jornal francês Charlie Hebdo, de sátira escrachada por meio de charges, que resultou na morte de 12 dos principais chargistas do semanário, causou comoção em todo o mundo pela violência do acontecimento que ceifou a vida de seres humanos e que por isso mesmo de ser deplorado.

No primeiro instante ocorreram manifestações espontâneas nas principais cidades da França e em capitas do mundo, o que é compreensível em decorrência da violência do ato e do clima criado pelas principais mídias do mundo ocidental que, de há muito, passaram a demonizar os estados islâmicos e os países do Oriente Médio que se propõem a não permanecer na órbita de domínio dos Estados Unidos.

Prova disso é que a unanimidade que se estabeleceu no início da tragédia teve curta unanimidade no estágio esfacelado de uma Europa onde, de fato, não há lugar para o quadro político ser a mesma coisa em nenhum lugar do mundo. Mesmo assim, no domingo (11), numa monumental marcha de Paris que, diferente das manifestações iniciais, nada teve de espontânea, reuniu figuras de países dos mais variados matizes de políticas terroristas do mundo, que primaram sempre pelo desrespeito aos princípios dos direitos humanos e democráticos.

Na linha de frente da marcha estavam alguns dos principais terroristas de Estado, com destaque para o primeiro-ministro de Israel, Biniyamin Netanyahu, promotor dos massacres diários contra o povo palestino, em que crianças, mulheres e idosos são chacinados aos milhares e a liberdade de expressão que é brandida contra outros povos é castrada em seu próprio país.  Ao chefe de estado terrorista de israelense juntaram-se outros representantes da direita mundial, dentre eles, os premiês do Reino Unido, David Cameron, o da Espanha Mariano Rajov e a chanceler alemã Ângela Merkel, que sempre apoiaram, por razões ideológicas, a violência contra os povos em desenvolvimento, principalmente nas regiões estratégicas produtoras de petróleo no Oriente Médio.

A histeria mundial criada pela mídia internacional nos primeiros dias do atentado contra a redação do Charlie Hebdo, contradiz com outras agressões aos direitos da humanidade cometidas pelos mesmos governos que condenaram o  ataque dos fanáticos islamitas. O governo dos Estados Unidos manteve presos sobre torturas na ilha de Guantânamo, sem processos formais, dezenas de descendentes islâmicos após os atentados de 11 de novembro. O governo francês participou do bombardeio do Iraque, país que registrava mais alto padrão social da África, para apear do poder Saddam Hussein, e dizimou milhares de vidas de civis inocentes, entre mulheres e crianças. O governo terrorista israelita ocupa, pela força do seu poderio bélico financiado pelo governo norte-americano, grande parte do território da Palestina e assassina diariamente dezenas de milhares de cidadãos palestinos inocentes. A Arábia Saudita, país aliado preferencial dos Estados Unidos no Oriente Médio, o jornalista e ativista de 31 anos, o saudita Raif Badawi, foi condenado a 10 anos de prisão e 1000 chibatadas pelas denúncias que fazia na sua página online contra o Islão.

Condenar os atentados contra seres humanos inocentes é papel de todo cidadão que defende os direitos humanos, a democracia e a liberdade de expressão como bem inalienável da humanidade, porém, sem que esses direitos ultrapassem os limites do respeito ao direito do seu próximo e sejam usados levando em conta que a liberdade, segundo Sartre “a liberdade não é o arbítrio ou o capricho momentâneo do indivíduo: radica na mais íntima estrutura da existência, é a própria existência”.   E Kant vai definir que “a liberdade só ocorre realmente, através do conhecimento das leis morais e não apenas pela própria vontade da pessoa”. “Je  sui Charlie Hebdo” e  também os outros.


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