“Je sui Charlie Hebdo” e também os outros
Trajano Jardim - Professor e Jornalista
O
atentado terrorista ao jornal francês Charlie Hebdo, de sátira escrachada por
meio de charges, que resultou na morte de 12 dos principais chargistas do
semanário, causou comoção em todo o mundo pela violência do acontecimento que
ceifou a vida de seres humanos e que por isso mesmo de ser deplorado.
No
primeiro instante ocorreram manifestações espontâneas nas principais cidades da
França e em capitas do mundo, o que é compreensível em decorrência da violência
do ato e do clima criado pelas principais mídias do mundo ocidental que, de há
muito, passaram a demonizar os estados islâmicos e os países do Oriente Médio
que se propõem a não permanecer na órbita de domínio dos Estados Unidos.
Prova
disso é que a unanimidade que se estabeleceu no início da tragédia teve curta unanimidade no estágio esfacelado de uma
Europa onde, de fato, não há lugar para o quadro político ser a mesma coisa em nenhum
lugar do mundo. Mesmo assim, no domingo (11), numa monumental marcha de Paris
que, diferente das manifestações iniciais, nada teve de espontânea, reuniu
figuras de países dos mais variados matizes de políticas terroristas do mundo,
que primaram sempre pelo desrespeito aos princípios dos direitos humanos e
democráticos.
Na linha de frente da marcha estavam alguns dos principais terroristas
de Estado, com destaque para o primeiro-ministro de Israel, Biniyamin
Netanyahu, promotor dos massacres diários contra o povo palestino, em que
crianças, mulheres e idosos são chacinados aos milhares e a liberdade de
expressão que é brandida contra outros povos é castrada em seu próprio país. Ao chefe de estado terrorista de israelense
juntaram-se outros representantes da direita mundial, dentre eles, os premiês do
Reino Unido, David Cameron, o da Espanha Mariano Rajov e a chanceler alemã
Ângela Merkel, que sempre apoiaram, por razões ideológicas, a violência contra
os povos em desenvolvimento, principalmente nas regiões estratégicas produtoras
de petróleo no Oriente Médio.
A histeria mundial criada pela mídia internacional nos primeiros dias do
atentado contra a redação do Charlie Hebdo, contradiz com outras agressões aos
direitos da humanidade cometidas pelos mesmos governos que condenaram o ataque dos fanáticos islamitas. O governo dos
Estados Unidos manteve presos sobre torturas na ilha de Guantânamo, sem
processos formais, dezenas de descendentes islâmicos após os atentados de 11 de
novembro. O governo francês participou do bombardeio do Iraque, país que registrava mais alto padrão social da África,
para apear do poder Saddam Hussein, e
dizimou milhares de vidas de civis inocentes, entre mulheres e crianças. O
governo terrorista israelita ocupa, pela força do seu poderio bélico financiado
pelo governo norte-americano, grande parte do território da Palestina e
assassina diariamente dezenas de milhares de cidadãos palestinos inocentes. A
Arábia Saudita, país aliado preferencial dos Estados Unidos no Oriente Médio, o jornalista e ativista de 31 anos, o
saudita Raif Badawi, foi condenado a 10 anos de prisão e 1000 chibatadas pelas
denúncias que fazia na sua página online contra o Islão.
Condenar os atentados contra seres humanos inocentes é
papel de todo cidadão que defende os direitos humanos, a democracia e a
liberdade de expressão como bem inalienável da humanidade, porém, sem que esses
direitos ultrapassem os limites do respeito ao direito do seu próximo e sejam
usados levando em conta que a liberdade, segundo Sartre “a liberdade não é o arbítrio ou o capricho momentâneo do indivíduo:
radica na mais íntima estrutura da existência, é a própria existência”. E Kant
vai definir que “a liberdade só ocorre realmente, através do conhecimento das
leis morais e não apenas pela própria vontade da pessoa”. “Je sui Charlie Hebdo” e também os outros.
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